Palavras dos Outros – “O Fim do Mundo”, por Cecília
Meireles
21/12/2012
por Bibliblog
«A primeira vez que ouvi falar no fim do mundo, o mundo
para mim não tinha nenhum sentido, ainda; de modo que não me interessava nem o
seu começo nem o seu fim. Lembro-me, porém, vagamente, de umas mulheres
nervosas que choravam, meio desgrenhadas, e aludiam a um cometa que andava pelo
céu, responsável pelo acontecimento que elas tanto temiam.
Valentí Gubianas
Nada disso se
entendia comigo: o mundo era delas, o cometa era para elas: nós, crianças,
existíamos apenas para brincar com as flores da goiabeira e as cores do tapete.
Mas, uma noite, levantaram-me da cama, enrolada num lençol, e, estremunhada, levaram-me à janela para me apresentarem à força ao temível cometa. Aquilo que até então não me interessava nada, que nem vencia a preguiça dos meus olhos pareceu-me, de repente, maravilhoso. Era um pavão branco, pousado no ar, por cima dos telhados? Era uma noiva, que caminhava pela noite, sozinha, ao encontro da sua festa? Gostei muito do cometa. Devia sempre haver um cometa no céu, como há lua, sol, estrelas. Por que as pessoas andavam tão apavoradas? A mim não me causava medo nenhum.
Mas, uma noite, levantaram-me da cama, enrolada num lençol, e, estremunhada, levaram-me à janela para me apresentarem à força ao temível cometa. Aquilo que até então não me interessava nada, que nem vencia a preguiça dos meus olhos pareceu-me, de repente, maravilhoso. Era um pavão branco, pousado no ar, por cima dos telhados? Era uma noiva, que caminhava pela noite, sozinha, ao encontro da sua festa? Gostei muito do cometa. Devia sempre haver um cometa no céu, como há lua, sol, estrelas. Por que as pessoas andavam tão apavoradas? A mim não me causava medo nenhum.
Ora, o cometa
desapareceu, aqueles que choravam enxugaram os olhos, o mundo não se acabou,
talvez eu tenha ficado um pouco triste – mas que importância tem a tristeza das
crianças?
Passou-se muito
tempo. Aprendi muitas coisas, entre as quais o suposto sentido do mundo. Não
duvido de que o mundo tenha sentido. Deve ter mesmo muitos, inúmeros, pois em
redor de mim as pessoas mais ilustres e sabedoras fazem cada coisa que bem se
vê haver um sentido do mundo peculiar a cada um.»
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